quinta-feira, 29 de maio de 2008

Vida em Volts

ela estuda e trabalha e estuda e namora e trabalha e se atrapalha – às vezes – mas não pode. ela sacode o fôlego. chacoalha o ânimo. segue a vida. tão corrida, é verdade. mas a idade é para isso e é preciso. ela não se intimida. não pede guarida. não perde compromisso. ela é um preciosíssimo diamante. ela é o dia a tarde a noite e amante: o exemplo do arranjo do tempo. não pára um momento. que seu traçado é em frente. freneticamente. ela corre. corre-corre. pega-pega. esconde-esconde. tudo aos montes. tudo em dobro. só que ela dá conta. ela faz de conta. ela está sempre pronta. num minuto. ela vai dominar o mundo


de repente


ela

se

des - cobre

:gente!


E ela sente.
Ela só-mente.
Ela está vazia.


Ela encosta na pia.
Olha no espelho.
Ela queria ser poesia.
Fantasia.
Ela já tem nome de sereia!
Ela queria pisar areia
E deixar-se afundar.
Ela precisa viajar.
Pra longe.
Ouro preto.
Ouro perto.
Ouro certo:
Ela quer conhecer Minas
- ela é menina
desses sonhos secretos.
E ela é tão bela
sendo aquela
a que ela vê!
Ela é Bela.
Cinderela.
É princesa.
Ela não tem
nenhuma certeza
- ela se interessa
pelas coisas que ardem.
Ela vai abandonar a tarde.
E espreguiçar-se no sofá.
Ligar pras amigas.
Fazer comida.
Ela nunca gostou
de tanta pressa.
Ela vai desistir
da promessa.
e comer chocolate.
e cortar o cabelo.
e amar sem receio
e com tudo.
Ela decidiu que começa
com esses passos miúdos.
Ela vai viver a fundo.

4 comentários:

Unknown disse...

Inaugurarei o espaço para comentários dessa poesia... porque havia de ser o primeiro, porque havia de concordar, porque havia de apreciar a poetisa e o objeto poetisado. Plenamente em acordo, nunca vi aliás descrição tão bem talhada sobre esse alguém que um dia cruza a vida da gente, aí, nessas esquinas sem importância das manhãs frias de uma cidade distante, e nos mostra que em tudo e para tudo o mundo pode ser feito de pessoas melhores e mais amáveis.

Não poderia, ainda que tentasse, escrever tão bem quanto escreveste, Patrícia. Apesar dos anos de convivência, sempre nos faltarão palavras para as emergências mais necessárias da vida, como num eterno castigo dos deuses, cujo castigo maior é ser insuperável.

Cada palavra, frase, período, está em seu devido lugar num quadro preciso que mais que pintar, captura a pessoa desse poema. Não sei se ela ainda leu, mas eu haveria de ler, e ser, quem sabe, o primeiro a ler, para no fim adicionar aqui meu comentário. E espero que quando nossa menina que se descobre gente amar sem receio e com tudo, descubra aqui, alguém que apesar das linhas tortas da vida ingrata que levamos na descoberta de nós mesmos, ainda pede e merece para ser amado.

Brilhante, garota, provando assim, que leio sempre, apesar de nem sempre comentar. Espero vê-la em breve, já que desde nosso último encontro você parece ter acelerado em muito sua produção, o que transformou essas duas semanas em quase um mês. Se a vida caminha no ritmo de nossas produções, sua vida caminhou no espaço de algumas semanas, alguns anos. Mas não se preocupe: ficar velha para algumas coisas é ficar nova para tantas outras.

Beijos!

Unknown disse...

Pat! Nosssa...nem sei o que dizer...to abismada até agora! Vc tem uma sensibilidade muito grande!Simplesmente adorei! Acho que vc não deveria voltar a trabalhar, assim poderia nos brindar sempre com essas poesias. Também achei espetacular aquela das pétalas impares...Espero um dia poder retribuir! Saudades de vc! Bjão..Muri

Danilo Lima disse...

Eu tenho até vergonha dos meus textos.

Dan Vícola disse...

É...
E não dá mesmo pra acrescentar onde tudo já foi dito, escrito, pintando com tanta sensibilidade tanta delicadeza.
A sentir, apenas.

*.*