domingo, 31 de agosto de 2008

Trânsito

Ausência de vagas na rua
Deixando nua
Toda minha verdade:
O que me apavora?!
É não encontrar um lugar.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

Pequena Fábula dos Caminhos sem Fim



O cenário, no início, recheava-se de pinheiros.
Plantação quadriculada e articulada aos raios de sol, os pinheiros eram, como ela, arraigados à terra. E fiéis à raízes e troncos, cresciam ambos – verde-menina – com a certa alegria de quem caminha rumo ao céu.
Sol e dias e frio e chuva e calor e o homem.
O desgaste da natureza e interesses (des)umanos podaram, certo dia, todos os pinheiros. Sem os pinheiros, o solo restou só e o vento soprou apenas o vazio.
Em não havendo pinheiros, acabou-se cheiro e sombra.
Na falta do refúgio, afastou-se de si mesma, chorou um mar de tristes ondas.
Mas sabedoria de mãe é colo e solo só é ainda terra firme.
Pois que na escuridão da noite e na secura do terreno órfão, ventos leves e brisas trouxeram sementes novas e pequeninas.
E silenciosamente misturadas às lágrimas da menina, floresceram um novo jardim de multicores.

sábado, 23 de agosto de 2008

Écran

Uma tela escura.
Uma figura bate em cada canto.
Nunca pára.
Não acha seu caminho.

Eu começo a desabar.
Não sinto o chão.
Não chego a lugar algum.

Tudo o que parece não é.
(Ou que enxergo o que nem mesmo parece ser?)
Enquanto um vazio grita por dentro
Espero pelo próximo minuto,
pela próxima hora,
o outro dia.

Descobrirei nesses instantes alguma verdade?

(Existe acaso
algo para ver?
algo para dar?
alguma idade?)

A figura em movimento multidimensional.
Teria ela alguma escolha?
Há sentido em parar um dia?

Quando uma nova perspectiva abre-se a meus olhos:
Já estaria completamente hipnotizada
Ou teria então ganhado asas?

Uma leveza toma conta de meu corpo.
Não preciso mais do chão.
Não anseio encontrar um lugar.
Desconheço a resposta.
Quisera apenas flutuar para sempre!
Eternizar-me nessa queda para cima.
Onde tudo de fato não é o que parece.
E não precisa ser.

No entanto de um barulho
retorno à dimensão inicial.

E a figura permanece ali.
Quatro lados, aprisionada.
Não espera o próximo minuto,
nem hora,
nem dia.

Sobrevive.

Quem foi então
o ladrão de minhas asas?
Quem me roubou o vôo
sem me levar o vazio?
Não sou eu
quem deveria estar
atrás dessas grades.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Propósito

O pensamento torto.
O segredo do corpo.
O falar tão pouco.


Eu vou (te deixar) 
louco.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Bancária

Sentada num banco de praça.
Camisa de um branco sem graça.
A personagem que banco realça:
Tão falsa a rotina em um banco!

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Pronome Pessoal que Cai do Teto

I try.
I don't fly.
I cry.

Que viver é assim,
tão difícil!,
Que (em inglês)
até o eu é ai!

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

domingo, 3 de agosto de 2008

Grafites Guardadas

Grafites guardadas não são tinta que resseca.
Grafites passadas ressurgem em outras paradas
Estranham a forma das páginas
Perguntam por velhas mágoas
E tornam a escrever.

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Grafites guardadas não são dessa tinta azulada
Que se dilue no curso das águas do tempo.
Grafites passadas, ainda que quebradas,
Nunca têm o intento
De se deixarem apagar.

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Grafites guardadas não são como tinta de pena.
Grafites passadas não têm tema de coloração variada
Jamais aceitam serem tampadas
Nem mais aprenderão
De serem sintéticas.