quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Caligrafias

Tamanha a obediência das coisas que me encontro a embaralhar palavras, só pra ver se pode um pouco de desordem! Não que me incomodem indiscutivelmente as regras, mas a que ponto perturbam-me as desnecessidades...
Jamais corrigi-lhes as regências todas, nem dei-me à interferir em suas inconcordâncias.
Com que propriedade vivem agora a assinalar os trechos de minhas ambigüidades?!

Ainda que vivesse a praticar caligrafias, confesso-lhes o fato de nunca ter chegado a ser verdadeiramente linear. E falta mesmo fazem-me hoje as borrachas, que ao menos elas podiam apagar-me!

Tenho andado a esconder as mãos nos bolsos, dissimulando grafites já impregnadas: abaixo das unhas, acima das palmas, adentro da alma.
Quais espantos trariam suas cinzas às páginas em que novamente habito!
Lar de folhas cuidadosamente limpas, impecavelmente, limpas.

(Vai um dia desses tropeço e no susto e na queda deixo um risco, sem querer?
Preto no branco! (admiraria de canto).
Se ao menos o clássico não estivesse démodé...)

Apontam minhas pontas altamente apontadas.
E pelas espetadas gratuitamente distribuídas peço-lhes desculpas, com sinceridade.
Julguem-me ingrata, egoísta, insensata.
Mas... por favor, não mais reduzam os borrões de minhas mãos sujas aos contornos dos carimbos burocráticos, nem continuem a exigir de minhas palavras a exatidão das escritas de forma.
Suspendam-me das advertências, levem-me direto às suas autoridades...(que sim, tenho a elas muitas perguntas)!
E para que bem assine todas as minhas culpas,
deixem-me logo treinar a letra de mão.

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