quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Além das Bandeiras

Cansei não apenas do lirismo, mas de toda palavra que hoje se situa entre sua insignificância e seu conceito.
Por nisso falar, cansei da distância entre o homem e a caverna, a teoria e a prática, o pressuposto e o verificável.
Cansei de estar entre a imensidão dos saberes e a incapacidade da apreensão, e do cansaço das dezenas de anos de estudo, cansei de estar entre a titulação e o conhecimento.
Cansei dos pontos médios e denominadores comuns.
Cansei dos elementos básicos, das correntes elétricas, das ondas e do som.
Cansei das preposições e conjunções e de tudo que apenas interliga e transita sem preocupar-se em ser em si.
Cansada estou, não apenas do lirismo, mas da inutilidade das línguas e palavras, dos gestos e expressões que em vão tentam percorrer o caminho entre nossas individualidades.
Cansei, inclusive, da alteridade, da dialética sem síntese, da construção.
Cansei de estar na fronteira entre o dentro e o fora, no limite entre a identidade e o não-pertencimento, no campo de refugiados de si mesmos.
Cansei da esquerda e da direita.
Cansei da reforma e da revolução.
Cansei do certo e do errado e de toda forma de dicotomia e fragmentação que deixa espaço para a angústia do meio-termo.
Cansada estou, não apenas do lirismo, mas de toda forma de comedimento que, ao ser mediano pressupõe extremos e assim instaura a distância entre sonho e realidade.

2 comentários:

Luis Gustavo Cardoso disse...

rs, quero ouvir seus comentários a respeito da sinopse.
Estou em Santos, semana que vem volto pra Franca, quero ir em sua formatura, se for possível.

meu email é dracolg@yahoo.com.br

bjo
gustavo

Dan Vícola disse...

Pati...

Tenho medo, às vezes, quando leio seus poemas. Explico: não quero que eles se esgotem. Não quero ficar sem lê-los porque isso se me apresentaria como sofrimento.
Esbarro sempre, ao transitar entre suas tão bem colocadas palavras, na porção de mim que há em você: eterno diálogo do EU com o OUTRO, sempre tão revelador e surpreendente.
E há em você a mesma fúria de expressar que observo em mim. A mesma revolta com o eterno falar, falar, falar e não dizer.
Você é certeira, Pati.
Seus golpes de grafite dizem muito bem a que vieram e o fazem com maestria.
Gosto de poder encontrar, cada vez que volto pra acompanhar mais um capítulo de seus escritos, matéria pra muita reflexão e combustível pra mais e mais alegria.
Feliz em compartilhar da sua sensibilidade, enfim.
Simples assim!
=)

Beijo!

Daniel.