segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Consolatio

Mantenho trancada a sacada com medo do vendaval.
Meus olhos, sempre tão grandes e abertos, já não suportam tanta poeira.
Mantenho trancada a sacada com medo da altura.
Preferiria a certeza do chão ao não-lugar entre o céu e a terra.
Mantenho trancada a sacada e fecho também a cortina.
Estou fatigada de tanto enxergar, estou atordoada pela clareza dos raios de sol.
Mantenho trancada a sacada e evito que me vejam.
Procuro entender na ausência a essência do consolo.
Mantenho trancada a sacada e privo-me do som.
Entoa-se no silêncio apenas a melodia desarmônica das dúvidas.
Mantenho trancada a sacada, mantenho guardadas verdades.
Mantenho trancada a sacada e quando chegar o momento,
Com o cair da noite mansa e sua brisa,
Quebrarei os vidros, destruirei as chaves,
E me mudarei para uma casa.

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