Écran

Uma tela escura.
Uma figura bate em cada canto.
Nunca pára.
Não acha seu caminho.

Eu começo a desabar.
Não sinto o chão.
Não chego a lugar algum.

Tudo o que parece não é.
(Ou que enxergo o que nem mesmo parece ser?)
Enquanto um vazio grita por dentro
Espero pelo próximo minuto,
pela próxima hora,
o outro dia.

Descobrirei nesses instantes alguma verdade?

(Existe acaso
algo para ver?
algo para dar?
alguma idade?)

A figura em movimento multidimensional.
Teria ela alguma escolha?
Há sentido em parar um dia?

Quando uma nova perspectiva abre-se a meus olhos:
Já estaria completamente hipnotizada
Ou teria então ganhado asas?

Uma leveza toma conta de meu corpo.
Não preciso mais do chão.
Não anseio encontrar um lugar.
Desconheço a resposta.
Quisera apenas flutuar para sempre!
Eternizar-me nessa queda para cima.
Onde tudo de fato não é o que parece.
E não precisa ser.

No entanto de um barulho
retorno à dimensão inicial.

E a figura permanece ali.
Quatro lados, aprisionada.
Não espera o próximo minuto,
nem hora,
nem dia.

Sobrevive.

Quem foi então
o ladrão de minhas asas?
Quem me roubou o vôo
sem me levar o vazio?
Não sou eu
quem deveria estar
atrás dessas grades.