Desacertos da temporalidade
- Então, você também escreve?!
A pergunta fez-se incômoda.
Acaso os devaneios de seu interior, transcritos em traços de grafite, tornavam-na uma escritora?
Interessaria-se aquele sujeito pela expressão de transtornos e dúvidas que talvez não lhe dissessem respeito?
Fato, era. Algumas dezenas de poemas, duas ou três crônicas, imaginava um conto.
Enxergava a poética da vida através de pensamentos decassílabos e rimados.
- Sim, escrevo.
(As palavras saíram-lhe da boca, tal como nos momentos em que não podia controlar a mão, insistente em riscar o papel).
- Interessante! E sobre o que escreve?
(Não resolvera o problema).
A natureza, os anjos, o mar.
Todos os grandes escritores pareciam versar sobre algo que lhes tinha sentido.
Quase heresia, escrevia justamente sobre a falta de sentido a perturbar-lhe ininterruptamente.
Como o olho chora e a boca grita, escrevia na intermitência das explosões de sua alma, como alternativa única.
- Não, não escrevo.
(Aliviou-se com a correção, embora ainda não certa sobre o grau de mentira que acarreta a supressão da verdade).
- Mas ora, escreve ou não escreve?
Não havia saída.
O pretérito calaria para sempre sua mão.
O presente exigiria explicações.
O futuro pertencia aos sujeitos indeterminados.
A inexistência de uma forma verbal acaso a eximiria de uma resposta?
(Grunhiu um vocábulo fresco):
- Escreviariarei.
Descobriu, no exato instante, os desacertos da temporalidade.
Escancarou, em sua ambigüidade, a incerteza característica dos versos.
Imaginou-se ininteligível e sorriu:
Compreendeu-se inexata, fez-se poetisa.
A pergunta fez-se incômoda.
Acaso os devaneios de seu interior, transcritos em traços de grafite, tornavam-na uma escritora?
Interessaria-se aquele sujeito pela expressão de transtornos e dúvidas que talvez não lhe dissessem respeito?
Fato, era. Algumas dezenas de poemas, duas ou três crônicas, imaginava um conto.
Enxergava a poética da vida através de pensamentos decassílabos e rimados.
- Sim, escrevo.
(As palavras saíram-lhe da boca, tal como nos momentos em que não podia controlar a mão, insistente em riscar o papel).
- Interessante! E sobre o que escreve?
(Não resolvera o problema).
A natureza, os anjos, o mar.
Todos os grandes escritores pareciam versar sobre algo que lhes tinha sentido.
Quase heresia, escrevia justamente sobre a falta de sentido a perturbar-lhe ininterruptamente.
Como o olho chora e a boca grita, escrevia na intermitência das explosões de sua alma, como alternativa única.
- Não, não escrevo.
(Aliviou-se com a correção, embora ainda não certa sobre o grau de mentira que acarreta a supressão da verdade).
- Mas ora, escreve ou não escreve?
Não havia saída.
O pretérito calaria para sempre sua mão.
O presente exigiria explicações.
O futuro pertencia aos sujeitos indeterminados.
A inexistência de uma forma verbal acaso a eximiria de uma resposta?
(Grunhiu um vocábulo fresco):
- Escreviariarei.
Descobriu, no exato instante, os desacertos da temporalidade.
Escancarou, em sua ambigüidade, a incerteza característica dos versos.
Imaginou-se ininteligível e sorriu:
Compreendeu-se inexata, fez-se poetisa.